sábado, 7 de dezembro de 2013

Como um barquinho de papel



Outro dia ouvi duas pessoas conversando numa lanchonete, algo bem costumeiro:
A garçonete da lachonete dizia: Aceita coca cola ou fanta? Quer o salgado de presunto ou de frango?
A cliente então respondeu: Tanto faz!
E a garçonete disse: Moça mas a coca custa três reais e a fanta dois e cinquenta.
Sai e fui refletir, “tanto faz”? Ora, é preciso escolher, nem que seja pra ficar com as duas opções! Que falta de personalidade, pensei.
A verdade é que muita gente vive assim, como um barco de papel numa lagoa que se deixa levar, pessoas assim são facilmente identificadas por utilizaram constantemente as expressões “tanto faz” e “pode ser”, para elas não há escolhas, esta sempre tudo ótimo, qualquer coisa serve! Será mesmo?
Um barco navega enquanto presencia o tempo passar, só admira as coisas acontecendo, ele mesmo não participa de nada! Pobre coitado, fica à margem de si mesmo, ao relento, à vontade do vento e das águas, não tem aspiração própria, ou talvez até tenha, mas, é incapaz de expressá-la, é como uma namoradeira na janela à espera de alguém que tome a iniciativa pra uma conversa quem sabe.
 Pessoas assim são medrosas, acomodadas, não querem ter de realizar escolhas, pois isso implica necessariamente numa perda! Quem escolhe o azul abre mão do amarelo, consequência natural, afinal não é sempre que se pode ter tudo e é preciso saber aceitar e superar isso! Contudo, mesmo que pareça contraditório e porventura não tenham essa percepção, tais pessoas escolhem não escolher, e terão que arcar com as consequências de manterem um estilo de vida Zeca Pagodinho “...deixa a vida me levar”.
A verdade é que esse tipo de pessoas não quer sofrer, contudo, não percebem que o sofrimento também é um sentimento importante e legítimo como qualquer outro, apesar de vivermos atualmente numa ditadura da não tristeza. Com o sofrimento aprendemos várias coisas, adquirimos experiência, valorizamos os bons momentos, quando os temos, liberamos estresse, etc.
Claro, que como dizia Vínícius: ...é melhor ser alegre que ser triste, mas melhor mesmo é não ser privado de sentir o que for, de se arriscar, correr atrás, sentir o frio na barriga, escolher, quebrar a cara, ser ou não recompensado, afinal, somos seres humanos, temos sentimentos e devemos senti-los por nós mesmos, todos eles, pois, a vida é passageira e cada segundo que passa não volta mais!
É melhor ser o protagonista da minha própria vida e dos meus caminhos; que o vento e as águas sirvam apenas pra me trazer surpresas, seja de leves brisas a furacões, de marés mansas a tempestades, mas que sejam legítimas e me possibilitem exercer com autonomia o livre arbítrio.
Pois, deixar-se levar não é uma opção, isso só funciona para barcos!

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A Âncora e o Balão


E lá está o copo pela metade... Não está nem meio cheio nem meio vazio. Ele está ali, na metade e ponto. O que acontece é que nós resolvemos dar sentido ao copo. Nós queremos um sentido pro copo. E nós o fazemos. E não só com o copo, mas com a vida.  Vivemos ora numa postura de âncora e ora uma postura de balão.

Os momentos ‘âncora’ são o que nós nos puxamos pra baixo, que nos afundamos. Que nos levamos ao fundo e nos paralisamos. O que buscamos nos momentos âncora é a firmeza, são as certezas. Quem já navegou muito por mares turbulentos, é a calmaria que se busca. E é apenas a âncora que não os deixa ficar a deriva, vagando por ai sem rumo.
Já nos momentos ‘balão’, nós nos elevamos, saímos do chão e nos permitimos voar. Enxergamos o céu e vemos que nem tudo está perdido, porque nos afastamos dos problemas, vemos as coisas por cima, de outro ângulo. Quando se vive um vida de ventos brandos o que mais se quer é a aventura e a incerteza do voo.
Os âncoras adoram se dizer realistas. Que na verdade não estão no fundo do mar parados e estagnados, e sim firmes, com os pés no chão. Não percebem que ao se manterem assim por muito tempo não terão fôlego pra continuar. Já os balões esses sempre acham que estão apenas voando baixo, aproveitando a paisagem, e não percebem que mal respiram, que o ar esta rarefeito de tão altos que se permitam voar.  

Amar falta ar... Seja sendo âncora seja sendo balão. Esses dois são extremos que se completam. Num relacionamento deve haver sempre uma âncora e um Balão. E não pode ser diferente. Duas âncoras só mantém o relacionamento mais imóvel, e dois balões só fazem com que se perca de vista o chão. Mais uma Âncora e um Balão são a chave. Um não deixa que o outro se perca do chão e o outro não deixa que esse um voe. As âncoras são as certezas e os balões são os sonhos. Não se pode sonhar sem as certezas, e não há espaço para sonhos se se vive apenas com certezas. Mas como disse Fernando Pessoa, “Navegar é preciso; viver não é preciso”. Viver não é ter certezas, e tampouco e só sonhar. Viver é esse eterno sobe e desce.


E eu que sempre fui tão Âncora me vi voando alto, alto demais. Tão alto que me perdi. Não me dei conta de que já não via a muito tempo o chão. Abortei a missão. Joguei a âncora, de dentro do  meu Balão. E caí de cara no chão e me despedacei. E doí. Doí muito, porque agora mais uma vez sou apenas uma Âncora no fundo do mar solitário a espera do Balão. Um Balão que me dará a certeza de que eu posso voar ser ter medo de cair...

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

15 dias



- "Então fica marcado pra daqui 15 dias.
- Você quis dizer 14 dias né? Daqui a duas semanas.
- Isso daqui 15 dias;
-  Não...  Uma semana tem 7 dias. Duas semanas tem. Vamos fazer a conta...
 
  
Sete vezes dois dá... Isso mesmo 14. De onde diabos as pessoas tiram 15
- Ah eh pra arredondar. Fica mais fácil de falar.



Só agora, refletindo sobre esse diálogo, que já ouvi várias vezes, é que me dei conta de que as pessoas tem um dia mais do que eu. Isso mesmo, enquanto a vida das outras pessoas continua normalmente, a minha salta um dia a cada duas semanas.
Agora eu entendo porque minha vida é mais fudida que a maioria das pessoas. As pessoas tem esse dia a mais, e eu perco ele.  E é exatamente nesse dia que as pessoas encontram o amor da vida delas. É nesse dia que elas aproveitam pra estudar pra provas e ir bem, enquanto eu resolvo ir pra balada e me fodo.  Nesses dias as pessoas conseguem o emprego do sonho delas, e eu fico contando moedas pra comprar Mc Donalds.

 Aaaah! Se eu tivesse um dia a mais tudo seria diferente (Mentira).  Eu não cometeria os mesmos erros (Mentira de novo). Eu saberia aproveitar esse dia pra realizar todas essas coisas.

Ta bom! É Mentira. Se eu tivesse um dia a mais eu faria inevitavelmente tudo igual. Cometeria os mesmo erros, as mesmas besteiras. Aproveitaria esse dia a mais, que não seria um dia a mais, seria apenas mais um dia, pra não fazer nada. Provavelmente ia dormir, ou desperdiçar assistindo algum seriado. É o que fazemos com os feriados e fins de semanas, planejamos milhões de coisas e acabamos frustrados porque não fazemos nem metade do que planejamos.

Então no fim das contas só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto só existe uma dia onde as coisas são possíveis. E esse dia é hoje! Hoje eu encontrarei meu amor. Hoje eu encontrarei o emprego que desejo. E só hoje eu serei feliz! 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Ônibus

Pra que um carro se no ônibus você pode encontrar o amor da sua vida?

Daí ta frio, e não tem nada como um aconchegante e quente transporte público. Exceto quando você lembra que ta quente, porque ninguém abriu nem sequer um frestinha da janela, e aqueles vidros todos embaçados já te fazem pensar que você se contaminou com câncer pelo ar.

Mas fora o sufoco, o desconforto, as horas paradas no trânsito, as pessoas sem noção, e todo o resto... Não há nada como os momentos sozinhos e reflexivos que esse maravilhoso (só que não mesmo) meio de transporte nos possibilita.

Penso muito na vida nesses momentos... Na verdade a maioria dos meus textos surgem dentro do ônibus. Eu de preferencia fico de fones, pra não ficar ouvindo as conversas alheias, nem dar oportunidades para que carentes de plantão venham desabafar sobre suas vidas IN.TEI.RAS.

Mas as vezes é inevitável que ouçamos algumas conversas... Dia desses entrou um moça nova, bonita,  acompanhada de um senhora, que devia ser a mãe dela. A moça estava com o celular na mão e já conversando.

"Oi, amiga, tudo bem? Tenho que te contar das últimas novidades", disse a moça  - Ela tinha uma voz rouca, tipo Ivete. Até tive que conferir pra ver se não tava num daqueles quadros da TV, "taxi da gugu". Só que numa versão mais pobre, num ônibus e com a Ivete Sangalo. Provavelmente um programa da rede TV.  -

"Acho que o Fernando, gosta de mim." - Quando ouço essas conversas sempre as respondo mentalmente. Como se as outras pessoas pudessem ouvir. - "Todo mundo fala que ele olha de um jeito diferente pra mim. Mas sei lá, ele não demonstra nada." - Eu não to fechada só pra ele. Não to deixando de aproveitar nada". - (Se ganhasse 1 real toda vez que ouvisse isso. Estaria respondendo mentalmente as conversas num ônibus em paris.)
- "Eu não gostaria que ele saísse com outras pessoas, amiga, será que ele tá saindo com outras pessoas?" - (Provavelmente, Ivete, provavelmente.).
- "Ah quer saber?! Quero mais que ele se dane". -(isso Ivete, tome as rédeas.)
- "Fui no casamento sabádo"  - (Aposto que só foi pra ver se descolava o buquê e desencalhava.) - "Não, nem peguei o buquê, mas peguei o primo na noiva" - (Olha só.  Todo mundo tem um lado devassa mesmo hein Vevetão. Não ta perdendo tempo.) - "Ele é bem diferente do Fernando. Ele pediu meu telefone, disse que ia me adicionar no faicebuqui. Mas até agora nada." - (Péssimo sinal Vevetão. Péssimo sinal) - "Mas sabe acho que ele gostou de mim... "- (Ta no caminho errado...) - "Não sei porque não adicionou ainda. Quando falei que minha filha aninha vai fazer 5 anos, ele falou que adorava criança". - (Poxa Ivete, ainda ta se perguntando o porque ele não adicionou?) - "Mas falando da Aninha, to com um 'poblema' sério." - (É você, tem no mínimo dois, e um deles é com o português) - "To querendo levar a Aninha no psicologo. Ela ta com 'poblema' em perder. Mesmo quando é num jogo, ela fica meses lembrando daquilo e chora sempre que lembra. Ta um 'pobrema' sério". 

Fiquei com raiva da aninha. Menina tola. Perdas ocorrem o tempo todo, ela tem que aprender a lidar com isso. Toda criança tem problema em aceitar que perdeu, é só birra, manha mesmo. Problema com perdas, argh! Era só o que me faltava. Eu perdi meu cachorro e não  estou ai choraminguando pelos cantos. Perdi contato com amigos que pensei que eram valiosos, mas no final das contas não eram. Perdi vários "amores", e fui rejeitados outras tantas vezes. Perdi... perdi muitas coisas. Mas superei. Lidei com elas e amadureci. Lidei com essas perdas quando eu... bem... Lidei com elas depois que eu... Ta bom! Quem eu estou enganando. Não lidei com essas perdas. Estou tão perdido quanto a aninha. Ainda relembrando dolorosamente das perdas que tive. Pobre aninha, com 5 anos e já aprendendo que a vida é uma sucessão de perdas. Há ganhos é claro. Os ganhos nos levam ao céu, mas as perdas estarão sempre ai pra nos manter com os pés no chão...

"Então, é isso amiga, vou desligar aqui que tenho um monte de 'poblemas' pra resolver. Beijos te cuida." E assim que a Ivete desligou o telefone, a mãe  vira e fala: 
- É 'poblema' que fala filha.
-  Hum, entendi. Mas qual a diferença entre 'poblema' e 'pobrema' mãe?!
- Pobrema é quando é de matemática, e poblema é pra coisa pessoal.
...
Esse é o problema da vida. Se tivessemos que resolver mais pobremas (matématicos) do que poblemas (pessoais), tudo seria mais fácil.

domingo, 28 de julho de 2013

Pode ser Pepsi!


Sempre tive a tendência de defender os frascos e comprimidos. As vezes até demais. E as vezes até quando não faz o menor sentido.


 Dia desses estava eu com amigos num bar e fiz meu pedido
"Garçom, me vê um Coca, por favor?"
"Tem Pepsi, pode ser?” , ele me perguntou.
Já indignado e ativando meu lado 'defensor', eu respondi
 "Não obrigado ela não merece isso."
O garçom com cara de abobado me pergunta, "Desculpe senhor, não entendi. Ela quem?"
"A Pepsi, obviamente. Ela não merece ser tratada assim."
"Assim como?", com cara já de impaciente agora.
"Como segunda opção. Como a opção confortável"
"Mais é quase a mesma coisa senhor."
"Mesma coisa? MESMA COISA", respondi já me exaltando. "Você já se perguntou como a Pepsi se sente? Já se perguntou se ela aceita essa situação? Ela não quer ser a segunda opção de ninguém. Ela merece coisa melhor, alguém que a queira pelo que ela é, e não alguém que busque um substituto pra Coca."
O garçom com cara de sabichão me responde "Terei que discordar do senhor. Os últimos slogans da Pepsi são falando coisas do tipo 'Pode ser pepsi. Pode ser surpreendente, pode ser um escolha inteligente! Isso pra mim demonstra que ela está bem com isso tudo.
"Muito pelo contrario" eu disse sem dar o braço a torcer. "Pra quem esta escolhendo, pode ser ótimo, pode ser surpreendente mesmo. Mas pra quem é escolhido como segunda opção, é uma merda. Uma merda! Se a pepsi pudesse te responder agora ela diria que, quem não quer mais ser consumida é ela. Que quem vive de migalha é pombo. Que ela vai procurar alguém que a aceite como ela é. E amar nela o que a faz ser diferente e única, e não alguém que busca nela o que a faz ser igual a outras"
"Ainda estamos falando da pepsi?"
"Sim. Refrigerante é um assunto muito importante pra mim!"
"Ta certo tudo bem senhor. O que vai querer pra beber então?"
"Eu vou querer um Schweppes. Não chega a ser a primeira opção de ninguém. É um gosto mais específico, mais autêntico, mas pelo menos sincero. Quem pede Schweppes quer Schweppes e pronto. Não fica se contentando com genéricos. Poucas pessoas vão chegar e pedir um Schweppes, mas as poucas que o farão, farão de modo verdadeiro.

 "Tem Sprite, pode ser?!"

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Caneca quebrada!


Ahhh Canecas! Quem não ama caneca?! Todo mundo. Sim, até você. E não me faça essa cara de bravinho só porque esperava ganhar um presentão de aniversário e ganhou uma caneca. Sei que você ama caneca. Mas daí a ficar feliz ao ganhar uma caneca é outra coisa. Ganhar uma caneca é horrível. Horrível mesmo. Especialmente se for daquelas bem bregas e toscas.

Mas porque as pessoas gostam tanto de canecas, você se pergunta caro leitor.
É porque elas são personalizadas. Únicas, coloridas, e vem em todos os tamanhos. Achar aquelas que o agrade é difícil. Demanda tempo e até um pouco de sorte eu diria. Tem de bater aquela afinidade,

Tenho algumas canecas. Não muitas, mas as que tenho me são muito preciosas. Uma das minhas caneca favoritas por exemplo, é essa do “5 para meia noite”. Sempre me lembra de que já está tarde demais para ficar enrolando na net. Chamo a de ‘cinco’

Estava observando a Cinco e comecei a pensar que uma caneca não faz muito sentido quando esta parada, ali no canto, sem ser usada. Que uma caneta não pode ser uma caneca, a menos que desempenhe sua função. E a função da caneca é ajudar no ato de beber. Canecas respiram. Elas se enchem e se esvaziam, repetidas vezes. E precisam disso para existir, igual aos seres vivos. Uma caneca não pode ser uma caneca se estiver sempre vazia. Ou sempre cheia. Ele só é uma caneca quando alguém bebe. É nesse momento, nesse breve instante, que a caneca realmente assume sua função. É quando ela vive, com toda a sua "canecacidade". Mas se ninguém beber, então a caneca não respira. Sem respirar, ela não vive. E nunca poderá ser uma caneca. 

E enquanto estava ali imerso em minha reflexão sobre canecas, brincava com a Cinco, quando a deixo escapar por entre meus dedos. A Cinco caiu e quebrou a alça. E uma caneca sem alça não é mais uma caneca, é um copo. Todo mundo tem um monte de copos. E um copo se acha em qualquer lugar.

Mas não uma caneca, Mas não a Cinco. A cinco agora é uma caneca sem asa! Não pode mais alçar voos. Ela se limita ao chão, ao supérfluo, ao raso. E quem já experimentou o voo, mantém os olhos voltados para céu, pois lá esteve e para lá deseja voltar.

Eu ainda tive bons momentos com a cinco. Tomava meu café quente e um suco bem gelado. Mas desde sua primeira queda não tinha mais a mesma segurança em usá-la. Sem a alça, sentia que ela corria um risco maior, e que se caísse, se quebraria por inteira. E dessa vez irreparavelmente. Não conseguia mais preenchê-la por completo. Mas ainda gostava dela, e resolvi dar mais uma chance a velha e boa cinco.

E assim o fiz por mais uma semana ou duas. Usando-a sempre com certo receio. E quando achei que a Cinco tinha voltado a ser a mesma e me permiti ser eu mesmo, espontâneo e natural. Ocorreu um deslize, ela escorregou de minha mão bateu na quina da mesa e se partiu. Olhei desesperado e triste. Mas me acalmei, respirei e fui ver o estrago. Os pedaços ainda estavam ali, decidi por fim colar os pedacinhos. Mas é um trabalho árduo. É como montar um quebra cabeça e ir encaixado, peça a peça.

Mas alguns pedaços parecem não mais pertencer à caneca. Não se encaixam como antigamente. Mas mesmo após colar todos os cacos, percebi que ela nunca mais será uma caneca, ela será sempre uma caneca quebrada. E mesmo que ela esteja forte de novo, essa caneca se "lembra" do passado, e tenta não se quebrar de novo. Ela se torna uma caneca mais cuidadosa. Não ousa mais. Faz tudo para se proteger e não se quebrar de novo.

Um tal de Shakespeare disse uma vez que: "Não importa em quantos pedaços sua caneca foi partida, o mundo simplesmente não para pára que você a concerte.". Poxa esse cara devia gostar mesmo de canecas. A Cinco agora se encontra trincada. E quando eu a encho... Ela chora. Vaza pelas rachaduras. Não aguenta mais os baques da vida.

Canecas são corações. Anseiam por ser usados. Entregues. Roubados. E até mesmo partidos. Quando as canecas se quebram, eles querem ser consertadas. Nós é que não queremos nos cortar com os cacos. Mas as canecas não. Eles não se importam em ser juntados no chão. Pedacinho por pedacinho. As canecas só querem voltar a ser canecas. Para que as pessoas nunca parem de beber. E eles nunca tenham que repousar sozinhas sobre as mesas dos quartos.


Mas porque raios estou aqui analisando essa caneca. Acho que me identifico a ela. Também estou quebrado, sem asa e chorando pelas rachaduras...

terça-feira, 30 de abril de 2013

Mar y Cielo




Querido Marcelo,

Receber essa minha carta mesmo após esses quatro anos, especialmente depois de tudo que se passou, seria algo de grande estranheza. Mas essa carta não te enviarei. O que tenho a dizer nela você não entenderia, aliás, você nunca entendeu. Escrevo-a pra dizer tudo àquilo que não foi dito, tudo o que poderia ter sido e que não foi... Enquanto escrevo, me afasto desses sentimentos que ficaram em mim e que nunca foram revelados. Consigo me iludir e afastar de mim toda essa dor. Mas como escrever em palavras aquilo que não cabe no céu?!

Marcelo, meu amado Marcelo  Não faço ideia de como você esteja, de como se sente nem o que anda fazendo. Tive meus motivos para fazer o que fiz, só não esperava que fosse sumir no mundo. Ainda contava com seu apoio, seus conselhos e da maneira com que me percebia, muitas vezes melhor do que eu mesmo. Não se engane, não sinto falta de você ou do seu amor, sinto falta do que eu senti quando te conheci. Sinto falta de me perder em você. E era um egoísmo meu esperar que continuasse a me amar mesmo após eu terminar com você da forma como fiz.

Marcelo, sinto falta dos momentos em que a gente ficava deitado na praia apreciando a vista. Já reparou como as cores se misturam?! Não se sabe se é o mar que espelha o azul do céu, ou se é o céu que espelha o azul do mar. O azul não sabe seu lugar, mas ele não se importa com isso. Ele não cabe só em si, vai do mar ao céu, e o preenche, da mesma forma que você veio até mim. Me preencheu, e se misturou a mim. De uma forma bem harmoniosa e sutil.
Mas não fundida, o horizonte estava lá pra nos mostrar o que cada um é. Ou talvez estivesse lá apenas pra mostrar que tudo tem um limite e também um fim.

Mas como te explicar Marcelo, como te explicar que seu amor me preencheu sim, mas me fez perceber um vazio maior, um vazio que meu amor não conseguiu preencher em você. Um vazio que era meu não amor por você. O carinho, o afeto, nunca os deixei de ter. Provavelmente nunca os deixarei de ter. Mas o amor, ah esse se foi tão repentinamente como quando chegou...
                                                                      
Ah Marcelo! Nosso verão foi ótimo mas o inverno chegou e agora faz frio, tanto frio que tudo parece estar congelando. Um frio que você adoraria. O mesmo frio que serviu de desculpa para você se aproximar de mim e me abraçar pela primeira vez. E quando você me abraçava, o mundo girava devagar. Girava... 

Você se lembra do vento gélido em nossos passeio por BH? Ele agora está mais forte do que nunca. Mesmo em casa, quando fecho a janela, ele lá está. Vejo então, que é de minha alma que ele vem e cada inverno ele retorna. Trazendo com ele os sentimentos frios e gélidos que ficaram após a sua partida, como se nunca tivessem me deixado.

Ontem passei em frente aquela nossa esquina. Aquela na qual você me roubou um beijo e onde tudo começou. Tudo me era desconhecido naquela época. Descobrimos a cidade juntos, era tão desconhecida pra você, quanto pra mim. Sempre que passo nessa esquina alguma coisa aconteceu com meu coração. Relembro que não sabia o que tinha a frente. Bem a gente nunca sabe né? Era como se tudo após aquela esquina fosse escuro e nada houvesse além de um vazio. E assim como descobrimos as ruas, você me descobriu. Me descobriu e me deixou descoberto. E faz frio... 

Nunca mais pude viver no 'não saber', por que agora eu sabia. Agora eu sei! Sei mais sobre de mim do que gostaria de saber e não há como fugir nem me esconder. Ando tentando negar o que sei, parece-me mais fácil. Mas me cansei. Por isso a carta. Te dei meu adeus, mas ele não foi suficiente, meu orgulho me impediu de te responder sua última carta. Só queria te contar que agora me libertei de você, que já não mais pensarei em você. E que ao contrario do que me disse em sua última carta, não espero que a vida nos aproxime de novo. Não nego o nosso passado, só não visualizo um futuro em que estejamos juntos.

Um grande abraço, e um beijo do seu, não mais seu, ex-amor!

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Com o coração na mão!



Todo mundo tem preguiça da segunda. Há toda uma cultura em cima de odiar e ter preguiça nas segundas. Comigo, a preguiça e o ódio se concentram no domingo. É um dia horrível. Horrível! Não tem nada pra fazer além de ficar entediado o dia todo. No último domingo estava eu nesse tédio circular, mudando de canal e esperando que algo me motivasse a fazer algo. Eis que paro num daqueles reality shows de adestramento de cães. Parei e assisti. Não me julguem, ainda.

No quadro um cachorro pitbull foi adotado, e deixado num terreno baldio para proteger o lote. O problema do cachorro é que ele é muito agressivo, e não deixa o dono se aproximar nem pra por ração e água. Nessa parte começam aquelas obviedades dos programas de adestramento, o reforçamento. Usando comida e aperitivos pra que o cão aos poucos deixe que se aproximem dele. Mas nada funciona.

Depois de várias tentativas falhas de se aproximar do cachorro, eis que o adestrador veste uma daquelas roupas de proteção (que parecem de astronauta) na qual o cão poderia morder ele inteiro que nada ocorreria, e entra no terreno. Por mais incrível que pareça o cachorro não faz nada. NADA! Tinha esperança que ao menos sangue rolasse e meu domingo saísse do tédio. Mais não, pelo contrário o cão não só permitiu o carinho como ainda chegou a brincar com adestrador.

O Adestrador resolveu testar uma teoria que havia formulado e mostrou uma mão de silicone ao cão, que imediatamente a mordeu ferozmente. Assim o que se supõe é que o cachorro provavelmente tenha apanhado e sofrido muito por uma 'mão' em sua história de vida. E aprendeu a reconhecer a mão como algo aversivo.

E foi nesse momento que tive o pulo do gato, ou melhor, o pulo do cachorro. Percebi o porquê tinha perdido mais de 1 hora assistindo esse programa. Eu sou o cachorro. Não, eu não to pegando a primeira pessoa que passa, e fazendo sexo na rua. Pelo menos não sempre. Mas enfim a questão é que eu sou aquele cachorro, com a diferença de que ao invés de atacar quando vejo uma mão, eu ataco quando vejo um coração.


Sim, eu ataco toda vez que os sentimentos e emoções se aproximam perto demais a ponto de eu me sentir vulnerável e prestes a me machucar. Então antes que as pessoas deixem de me amar, eu deixo de amar primeiro. Associei, assim como o cachorro, que ao ver um "coração" o que vem em seguida é sofrimento. E assim como na música da Adele passei a 
 não vou deixar ninguém se chegar perto o suficiente para me machucar. O problema dessa meu comportamento é que eu deixei de me machucar mas também deixei de ganhar carinho e estou cansado disso. Não posso parar no tempo e esperar que alguém venha vestido com aquela roupa de astronauta (aquela aprova de mordidas) e pacientemente se aproxime até que eu perceba que não tenho o que temer. Que não é assim que perderei o seu amor. Até porque como alguém irá me amar se eu continuar tentando mordê-las quando elas se aproximam.