terça-feira, 30 de abril de 2013

Mar y Cielo




Querido Marcelo,

Receber essa minha carta mesmo após esses quatro anos, especialmente depois de tudo que se passou, seria algo de grande estranheza. Mas essa carta não te enviarei. O que tenho a dizer nela você não entenderia, aliás, você nunca entendeu. Escrevo-a pra dizer tudo àquilo que não foi dito, tudo o que poderia ter sido e que não foi... Enquanto escrevo, me afasto desses sentimentos que ficaram em mim e que nunca foram revelados. Consigo me iludir e afastar de mim toda essa dor. Mas como escrever em palavras aquilo que não cabe no céu?!

Marcelo, meu amado Marcelo  Não faço ideia de como você esteja, de como se sente nem o que anda fazendo. Tive meus motivos para fazer o que fiz, só não esperava que fosse sumir no mundo. Ainda contava com seu apoio, seus conselhos e da maneira com que me percebia, muitas vezes melhor do que eu mesmo. Não se engane, não sinto falta de você ou do seu amor, sinto falta do que eu senti quando te conheci. Sinto falta de me perder em você. E era um egoísmo meu esperar que continuasse a me amar mesmo após eu terminar com você da forma como fiz.

Marcelo, sinto falta dos momentos em que a gente ficava deitado na praia apreciando a vista. Já reparou como as cores se misturam?! Não se sabe se é o mar que espelha o azul do céu, ou se é o céu que espelha o azul do mar. O azul não sabe seu lugar, mas ele não se importa com isso. Ele não cabe só em si, vai do mar ao céu, e o preenche, da mesma forma que você veio até mim. Me preencheu, e se misturou a mim. De uma forma bem harmoniosa e sutil.
Mas não fundida, o horizonte estava lá pra nos mostrar o que cada um é. Ou talvez estivesse lá apenas pra mostrar que tudo tem um limite e também um fim.

Mas como te explicar Marcelo, como te explicar que seu amor me preencheu sim, mas me fez perceber um vazio maior, um vazio que meu amor não conseguiu preencher em você. Um vazio que era meu não amor por você. O carinho, o afeto, nunca os deixei de ter. Provavelmente nunca os deixarei de ter. Mas o amor, ah esse se foi tão repentinamente como quando chegou...
                                                                      
Ah Marcelo! Nosso verão foi ótimo mas o inverno chegou e agora faz frio, tanto frio que tudo parece estar congelando. Um frio que você adoraria. O mesmo frio que serviu de desculpa para você se aproximar de mim e me abraçar pela primeira vez. E quando você me abraçava, o mundo girava devagar. Girava... 

Você se lembra do vento gélido em nossos passeio por BH? Ele agora está mais forte do que nunca. Mesmo em casa, quando fecho a janela, ele lá está. Vejo então, que é de minha alma que ele vem e cada inverno ele retorna. Trazendo com ele os sentimentos frios e gélidos que ficaram após a sua partida, como se nunca tivessem me deixado.

Ontem passei em frente aquela nossa esquina. Aquela na qual você me roubou um beijo e onde tudo começou. Tudo me era desconhecido naquela época. Descobrimos a cidade juntos, era tão desconhecida pra você, quanto pra mim. Sempre que passo nessa esquina alguma coisa aconteceu com meu coração. Relembro que não sabia o que tinha a frente. Bem a gente nunca sabe né? Era como se tudo após aquela esquina fosse escuro e nada houvesse além de um vazio. E assim como descobrimos as ruas, você me descobriu. Me descobriu e me deixou descoberto. E faz frio... 

Nunca mais pude viver no 'não saber', por que agora eu sabia. Agora eu sei! Sei mais sobre de mim do que gostaria de saber e não há como fugir nem me esconder. Ando tentando negar o que sei, parece-me mais fácil. Mas me cansei. Por isso a carta. Te dei meu adeus, mas ele não foi suficiente, meu orgulho me impediu de te responder sua última carta. Só queria te contar que agora me libertei de você, que já não mais pensarei em você. E que ao contrario do que me disse em sua última carta, não espero que a vida nos aproxime de novo. Não nego o nosso passado, só não visualizo um futuro em que estejamos juntos.

Um grande abraço, e um beijo do seu, não mais seu, ex-amor!

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