sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Ônibus

Pra que um carro se no ônibus você pode encontrar o amor da sua vida?

Daí ta frio, e não tem nada como um aconchegante e quente transporte público. Exceto quando você lembra que ta quente, porque ninguém abriu nem sequer um frestinha da janela, e aqueles vidros todos embaçados já te fazem pensar que você se contaminou com câncer pelo ar.

Mas fora o sufoco, o desconforto, as horas paradas no trânsito, as pessoas sem noção, e todo o resto... Não há nada como os momentos sozinhos e reflexivos que esse maravilhoso (só que não mesmo) meio de transporte nos possibilita.

Penso muito na vida nesses momentos... Na verdade a maioria dos meus textos surgem dentro do ônibus. Eu de preferencia fico de fones, pra não ficar ouvindo as conversas alheias, nem dar oportunidades para que carentes de plantão venham desabafar sobre suas vidas IN.TEI.RAS.

Mas as vezes é inevitável que ouçamos algumas conversas... Dia desses entrou um moça nova, bonita,  acompanhada de um senhora, que devia ser a mãe dela. A moça estava com o celular na mão e já conversando.

"Oi, amiga, tudo bem? Tenho que te contar das últimas novidades", disse a moça  - Ela tinha uma voz rouca, tipo Ivete. Até tive que conferir pra ver se não tava num daqueles quadros da TV, "taxi da gugu". Só que numa versão mais pobre, num ônibus e com a Ivete Sangalo. Provavelmente um programa da rede TV.  -

"Acho que o Fernando, gosta de mim." - Quando ouço essas conversas sempre as respondo mentalmente. Como se as outras pessoas pudessem ouvir. - "Todo mundo fala que ele olha de um jeito diferente pra mim. Mas sei lá, ele não demonstra nada." - Eu não to fechada só pra ele. Não to deixando de aproveitar nada". - (Se ganhasse 1 real toda vez que ouvisse isso. Estaria respondendo mentalmente as conversas num ônibus em paris.)
- "Eu não gostaria que ele saísse com outras pessoas, amiga, será que ele tá saindo com outras pessoas?" - (Provavelmente, Ivete, provavelmente.).
- "Ah quer saber?! Quero mais que ele se dane". -(isso Ivete, tome as rédeas.)
- "Fui no casamento sabádo"  - (Aposto que só foi pra ver se descolava o buquê e desencalhava.) - "Não, nem peguei o buquê, mas peguei o primo na noiva" - (Olha só.  Todo mundo tem um lado devassa mesmo hein Vevetão. Não ta perdendo tempo.) - "Ele é bem diferente do Fernando. Ele pediu meu telefone, disse que ia me adicionar no faicebuqui. Mas até agora nada." - (Péssimo sinal Vevetão. Péssimo sinal) - "Mas sabe acho que ele gostou de mim... "- (Ta no caminho errado...) - "Não sei porque não adicionou ainda. Quando falei que minha filha aninha vai fazer 5 anos, ele falou que adorava criança". - (Poxa Ivete, ainda ta se perguntando o porque ele não adicionou?) - "Mas falando da Aninha, to com um 'poblema' sério." - (É você, tem no mínimo dois, e um deles é com o português) - "To querendo levar a Aninha no psicologo. Ela ta com 'poblema' em perder. Mesmo quando é num jogo, ela fica meses lembrando daquilo e chora sempre que lembra. Ta um 'pobrema' sério". 

Fiquei com raiva da aninha. Menina tola. Perdas ocorrem o tempo todo, ela tem que aprender a lidar com isso. Toda criança tem problema em aceitar que perdeu, é só birra, manha mesmo. Problema com perdas, argh! Era só o que me faltava. Eu perdi meu cachorro e não  estou ai choraminguando pelos cantos. Perdi contato com amigos que pensei que eram valiosos, mas no final das contas não eram. Perdi vários "amores", e fui rejeitados outras tantas vezes. Perdi... perdi muitas coisas. Mas superei. Lidei com elas e amadureci. Lidei com essas perdas quando eu... bem... Lidei com elas depois que eu... Ta bom! Quem eu estou enganando. Não lidei com essas perdas. Estou tão perdido quanto a aninha. Ainda relembrando dolorosamente das perdas que tive. Pobre aninha, com 5 anos e já aprendendo que a vida é uma sucessão de perdas. Há ganhos é claro. Os ganhos nos levam ao céu, mas as perdas estarão sempre ai pra nos manter com os pés no chão...

"Então, é isso amiga, vou desligar aqui que tenho um monte de 'poblemas' pra resolver. Beijos te cuida." E assim que a Ivete desligou o telefone, a mãe  vira e fala: 
- É 'poblema' que fala filha.
-  Hum, entendi. Mas qual a diferença entre 'poblema' e 'pobrema' mãe?!
- Pobrema é quando é de matemática, e poblema é pra coisa pessoal.
...
Esse é o problema da vida. Se tivessemos que resolver mais pobremas (matématicos) do que poblemas (pessoais), tudo seria mais fácil.