quinta-feira, 27 de junho de 2013

Caneca quebrada!


Ahhh Canecas! Quem não ama caneca?! Todo mundo. Sim, até você. E não me faça essa cara de bravinho só porque esperava ganhar um presentão de aniversário e ganhou uma caneca. Sei que você ama caneca. Mas daí a ficar feliz ao ganhar uma caneca é outra coisa. Ganhar uma caneca é horrível. Horrível mesmo. Especialmente se for daquelas bem bregas e toscas.

Mas porque as pessoas gostam tanto de canecas, você se pergunta caro leitor.
É porque elas são personalizadas. Únicas, coloridas, e vem em todos os tamanhos. Achar aquelas que o agrade é difícil. Demanda tempo e até um pouco de sorte eu diria. Tem de bater aquela afinidade,

Tenho algumas canecas. Não muitas, mas as que tenho me são muito preciosas. Uma das minhas caneca favoritas por exemplo, é essa do “5 para meia noite”. Sempre me lembra de que já está tarde demais para ficar enrolando na net. Chamo a de ‘cinco’

Estava observando a Cinco e comecei a pensar que uma caneca não faz muito sentido quando esta parada, ali no canto, sem ser usada. Que uma caneta não pode ser uma caneca, a menos que desempenhe sua função. E a função da caneca é ajudar no ato de beber. Canecas respiram. Elas se enchem e se esvaziam, repetidas vezes. E precisam disso para existir, igual aos seres vivos. Uma caneca não pode ser uma caneca se estiver sempre vazia. Ou sempre cheia. Ele só é uma caneca quando alguém bebe. É nesse momento, nesse breve instante, que a caneca realmente assume sua função. É quando ela vive, com toda a sua "canecacidade". Mas se ninguém beber, então a caneca não respira. Sem respirar, ela não vive. E nunca poderá ser uma caneca. 

E enquanto estava ali imerso em minha reflexão sobre canecas, brincava com a Cinco, quando a deixo escapar por entre meus dedos. A Cinco caiu e quebrou a alça. E uma caneca sem alça não é mais uma caneca, é um copo. Todo mundo tem um monte de copos. E um copo se acha em qualquer lugar.

Mas não uma caneca, Mas não a Cinco. A cinco agora é uma caneca sem asa! Não pode mais alçar voos. Ela se limita ao chão, ao supérfluo, ao raso. E quem já experimentou o voo, mantém os olhos voltados para céu, pois lá esteve e para lá deseja voltar.

Eu ainda tive bons momentos com a cinco. Tomava meu café quente e um suco bem gelado. Mas desde sua primeira queda não tinha mais a mesma segurança em usá-la. Sem a alça, sentia que ela corria um risco maior, e que se caísse, se quebraria por inteira. E dessa vez irreparavelmente. Não conseguia mais preenchê-la por completo. Mas ainda gostava dela, e resolvi dar mais uma chance a velha e boa cinco.

E assim o fiz por mais uma semana ou duas. Usando-a sempre com certo receio. E quando achei que a Cinco tinha voltado a ser a mesma e me permiti ser eu mesmo, espontâneo e natural. Ocorreu um deslize, ela escorregou de minha mão bateu na quina da mesa e se partiu. Olhei desesperado e triste. Mas me acalmei, respirei e fui ver o estrago. Os pedaços ainda estavam ali, decidi por fim colar os pedacinhos. Mas é um trabalho árduo. É como montar um quebra cabeça e ir encaixado, peça a peça.

Mas alguns pedaços parecem não mais pertencer à caneca. Não se encaixam como antigamente. Mas mesmo após colar todos os cacos, percebi que ela nunca mais será uma caneca, ela será sempre uma caneca quebrada. E mesmo que ela esteja forte de novo, essa caneca se "lembra" do passado, e tenta não se quebrar de novo. Ela se torna uma caneca mais cuidadosa. Não ousa mais. Faz tudo para se proteger e não se quebrar de novo.

Um tal de Shakespeare disse uma vez que: "Não importa em quantos pedaços sua caneca foi partida, o mundo simplesmente não para pára que você a concerte.". Poxa esse cara devia gostar mesmo de canecas. A Cinco agora se encontra trincada. E quando eu a encho... Ela chora. Vaza pelas rachaduras. Não aguenta mais os baques da vida.

Canecas são corações. Anseiam por ser usados. Entregues. Roubados. E até mesmo partidos. Quando as canecas se quebram, eles querem ser consertadas. Nós é que não queremos nos cortar com os cacos. Mas as canecas não. Eles não se importam em ser juntados no chão. Pedacinho por pedacinho. As canecas só querem voltar a ser canecas. Para que as pessoas nunca parem de beber. E eles nunca tenham que repousar sozinhas sobre as mesas dos quartos.


Mas porque raios estou aqui analisando essa caneca. Acho que me identifico a ela. Também estou quebrado, sem asa e chorando pelas rachaduras...